Um fim de semana em Cambará do Sul


Uma cidadezinha pacata, dona de uma simplicidade sem igual e, ao mesmo tempo, de cenários naturais espetaculares. Assim é Cambará do Sul. A cidade reúne as imensas belezas de seus cânions, podendo agradar tanto os viajantes mais aventureiros como aqueles que procuram descanso e relaxamento, a começar pela variedade de pousadas que permitem curtir bons momentos em meio à natureza.

Cheguei em uma sexta-feira à tarde na cidade e, em uma volta pelo centro, já pude perceber o clima de interior, a tranquilidade pelas ruas e a simplicidade da população local. As construções chamam a atenção, muitas casas são bem antigas, feitas em madeira, o que dá a sensação de voltar no tempo. Algumas delas, estão localizadas ao redor da praça da Igreja Matriz São José. Toda a região central pode ser conhecida a pé e você pode programar as suas demais atividades por ali mesmo, pois há diversas agências de turismo e aventura nos arredores.

É comum encontrar construções antigas em madeira no centro de Cambará do Sul

Igreja Matriz São José ao fundo

A noite na cidade não é diferente e o clima sossegado permanece. Poucas pessoas nas ruas e os restaurantes da região central oferecem um clima de aconchego. O meu preferido foi o Zuppa, que serve diferentes tipos de sopas, massas e lasanhas. Um lugar acolhedor, com uma decoração rústica, uma delícia.

No dia seguinte, depois de um farto café da manhã, a direção não podia ser outra: os tão esperados cânions.

No trajeto até o Cânion Itaimbezinho

Os cânions Itaimbezinho e Fortaleza estão localizados, respectivamente, nos Parques Nacionais de Aparados da Serra e da Serra Geral. Os dois ficam sob responsabilidade do ICMBio – Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade, o qual é vinculado ao Ministério do Meio Ambiente. No entanto, não há recurso do Governo destinado à manutenção desses parques. Não é cobrado ingresso e nem estacionamento para a entrada nos mesmos, apenas arrecadada uma contribuição espontânea dos visitantes.

No Cânion Itaimbezinho há a possibilidade de realizar três diferentes trilhas: duas delas percorrendo a parte superior do cânion, a trilha do Vértice (1,5 km de extensão) e a trilha do Cotovelo (6 km). E outra na parte inferior, a trilha do Rio do Boi, um trajeto feito entre os cânions, seguindo o rio. Esta última somente pode ser feita com acompanhamento de guia. São 8 km passando entre pedras e por dentro do rio, o que pode levar de 5 a 7 horas de caminhada.

 O Cânion Itaimbezinho e a vista de uma parte da trilha do Rio do Boi. Por lá, contam que, antigamente, os bois que pastavam próximos das bordas dos cânions, muitas vezes, caiam paredão abaixo, ficando conhecido, então, por esse nome.

Paredões e vegetação do Cânion Itaimbezinho, a partir da Trilha do Vértice

O Cânion Itaimbezinho possui paredões que medem 5,8 km de extensão, 720 metros de profundidade e até 600 metros de largura

Nas trilhas do Vértice e do Cotovelo, há alguns pontos com mirantes que permitem avistar os cânions e as cascatas das Andorinhas e Véu da Noiva. A vista mais incrível, na minha opinião, está seguindo a trilha do Cotovelo, quando se enxergam os paredões e o Rio do Boi entre eles. Mas não é somente sobre a vista que quero falar aqui e, sim, sobre a sensação de estar lá, de se perceber tão pequeno diante de toda aquela grandiosidade da natureza, de se sentir vivo e ao mesmo tempo tão vulnerável, de dar verdadeiro valor à vida e à natureza. Um lugar que explora os seus sentidos e provoca reflexões a cada caminho percorrido.

Vista da Cascata das Andorinhas com quedas de 300 metros de altura

Vista de parte da trilha do Rio do Boi e da Cascata Véu da Noiva, com queda de 500 metros de altura

Na entrada do parque, há um centro de visitantes com sanitários, bebedouro e funcionários que prestam informações sobre as trilhas e o parque. Há também um espaço ao ar livre para quem quiser levar um lanche, almoço ou fazer um piquenique, com mesas e cadeiras à disposição.

O que lhe provoca cada lugar que você visita? Você consegue prestar atenção nos seus sentimentos?

Neste mesmo dia, após a visita ao cânion, fui conhecer a Fazenda Cascatas dos Venâncios, em Jaquirana, município vizinho de Cambará. Um ótimo lugar para curtir a natureza, com paisagens belíssimas. Você já leu o post sobre esse lugar? Confira o relato dessa experiência nesse link [clique aqui].

No último dia, estava programado conhecer o Cânion Fortaleza, no entanto, o tempo não privilegiou a visita ao mesmo. Havia muita cerração e, por vezes, uma fina garoa. Durante o trajeto até o parque, fui torcendo para que a cerração diminuísse e o sol mostrasse as paisagens, mas, infelizmente, isso não aconteceu.

Fiz uma das trilhas e, em alguns momentos, apenas pequenas aberturas entre as nuvens mostravam algumas partes dos paredões que estavam do outro lado. Ao chegar no topo, a vista era apenas do que estava a alguns passos a minha frente. Não dava pra ter noção do quão alto eu estava. Em alguns pontos, o Cânion Fortaleza chega a 900 metros de altura.

Um pouco do que a cerração permitia ver no Cânion Fortaleza

Em uma das trilhas do Cânion Fortaleza

Diferentemente do primeiro, o cânion Fortaleza não possui demarcações e faixas de contenção, o que dá uma sensação maior de insegurança. Associado ao tempo muito fechado, a melhor opção foi voltar em outra ocasião para fazer as trilhas de forma segura.

Mesmo sem ter a vista que eu esperava, antes de voltar, sentei e fiquei ali aproveitando aquele momento. Estar em meio à natureza, sentindo alguns pinguinhos da chuva que, vez ou outra, teimava em aparecer... O frio que se instalava ali, em pleno verão de janeiro... Envolvida pelas nuvens brancas que emanavam quietude e serenidade.

Isso é tão admirável em uma viagem, parar e se permitir sentir, observar as sensações que surgem a cada passo, a cada momento vivido. Cada lugar pode despertar algo diferente e único em cada um de nós. Ter essa percepção faz as nossas viagens muito mais completas, especiais, autênticas. Porque o que sentimos é somente nosso e, claro, pode dizer tanto sobre nós mesmos.

Álvaro de Campos já havia escrito que a melhor maneira de viajar é sentir

De alguma forma ou de outra, uma viagem vai sempre ensinar algo novo, seja a respeito do lugar – que é, na maioria das vezes, a busca principal, o que motiva a viagem –, seja sobre si mesmo. O importante é poder estar atento aos sentidos e aos sentimentos que nos invadem em cada momento.

Cambará do Sul, além das paisagens deslumbrantes, é uma cidade que permite ir muito além daquilo que se vê.

Comentários

  1. Ótimas dicas Lu, vamos lá em julho, mas ficaremos 1 dia só, tuas dicas são ótimas para decidir o que fazer em tão pouco tempo. Beijão

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    1. Oi Fran, obrigada pelo comentário! Em um dia vocês conseguem conhecer os dois cânions, fazendo as trilhas sobre eles, já que são autoguiadas. Vocês vão amar! Aproveitem! 😍😘

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